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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Santa Maria

Cumprem-se as horas
Em circulos quase perfeitos
Neste universo
E cada quadrante
É apenas a leve pena da memória
Que o silêncio não deixa apagar

Rezam-se os pregões da vida
Nas noites brancas
Solta-se do olhar
Esse sal que fecunda o sentir
Soltando o grito da alma

E os lábios
Esse múrmurio latejando
Aos céus de breu
Poisam sobre o rochedo

E do peito
Ai do peito
O grito
O sonho
A visão
Amarras soltas
No cais da esperança
Suor de uma ladaínha
Que escapa ao gesto
Explodindo a chama deste esperar

Valha- Santa Maria
Que o tempo avança
E depois?

Depois já é tarde
Para nos aconchegarmos
Ao rosto da Paz
E sentirmos o beijo suave
Do retorno ás águas de mel

Santa Maria
Acorda-nos no cais
Antes que o corpo morno e lasso
Desça aos cumes da escuridão
Para que nela se perpétue
A eternidade do Ser.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Rasgo de Olhar



Falta ao olhar a limpidez
Para rasgar esse orvalho matizado
Onde se aninham as palavras invertidas
De gesto e alma
Falta o sulco
De todos os caminhos
Esse rasgo entre a terra queimada
E o desejo de alcançar
Esse pedaço de sol
Onde adormecem verdes esperanças
Falta o grito mesmo que chorado
De tantas Almas famintas
De tantos corpos alquebrados
De tantos olhares
Parados num tempo sem tempo
Falta ao olhar
O deslumbrar de um amanhã
Onde haja um naco de pão
Mesmo que seja
Na mais apertada esquina da vida

Falta ao olhar
Apenas e tão sómente
A verdade por tantos escondida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Falemos

Falemos deste ondear

Onde vozes doridas

Lavam todos mágoas

Sem que o silêncio

Desvaneça este rosto de uma vida

Presa numa saudade aquém do tempo

Falemos!

Desta aragem que rodopia

No pensamento mais virgem

Deixando o eco sem forma

No vazio que se aconchega

À penumbra dos entardeceres

Falemos

Desses trilhos enregelados

Que pairam sobre o olhar

Como aves grasnando temporais

Sobre a terra queimada pela solidão

Falemos.......

Sem medos nem tabus

Não queimemos mais a alma

Com o fogo da palavra incerta.

Falemos

Mesmo que a fome doa

Na carne roída de silêncios

Mesmo que os olhos extravasem

Um mar de sal

Mesmo que o corpo se arraste

Nas ruas da solidão

FALEMOS DE AMOR.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Entre Vértices

Enquanto o dia vai subindo os degraus do entardecer deixo o olhar deslizar neste mundo onde quase tudo está em aberto e entre toques e virar de páginas duas linhas convergem nesta viagem aquém de tudo e de todos desventrando palavras,gestos ou apenas profundos silêncios.
Nesta rápida viagem este olhar perfeito luzeiro de alma contorce-se entre espasmos e gotas de uma chuva talvez quem sabe lágrimas de Deus subindo nestes vértices onde tudo se une num ponto.
Vi poetas deslizando suas penas sobre uma mancha de azul querendo transparecer o suor dos dias em palavras de alma quais mãos feitas mar inundando um corpo feito barro.

Vi o rubor de lágrimas em desespero queimando este tempo brando enquanto olume da raiva se ia acendendoem cada pedaço de pele.
Vi a fome vestida do mais puro negro,boca de mil pedaços de desgraça,disforme gotejando a espumade quem apenas recolhe as sobras deste dia que alguém decepou ao nascer.
Vi a solidão chorada ,pisada entre os umbrais da alma e o corpo mercê de quatro paredes nuas e bolorentasrodeando a palha onde o descanso é ilusão.
Vi gravatas rodeadas de nós incertos na espera de uma câmara para mais um sensionalismo neste palco da vida deixando um cheiro nauseabundo e quase falso caindo no chão do corpo todas as promessas feitas e juradas em nomede um deus que nao conheço!
São gente políticamente correcta,são instruídos,trazem na boca a chama da verdade e nos bolsos este maldito metal que corrompe e tudo deseja ter em posse!
Ah ilusão podre,falsa palavra transbordando do olhar a angústia de quem não pode apagar o registo de uma consciência!
Vi o povo crescendo nas fileiras da certeza,sem armas nem bastões,apenas trazendo no regaço,a voz da Alma o suor sem paga, as migalhas jogadas com desprezo,a lágrima de uma raiva acesa no sangue de quem é filho deste sol semeado no universo.
Estranha forma de vida(já diz o fado) se passa nas fileiras da memória dos iluminados!
Vi crianças, corpos esguios, olhos fecundados pela incerteza de um amanhã não liberto das tenazes que espreitam a cada virar de esquina da vida.
Vi os velhos junto do lume orando um rosário de dores e pedindo a partida deixando rolar sobre o rosto aquela lágrima que teimosamente lhes faz recordar outras vidas.
Vi mundo e mundos num relance de alma enquanto entre vértices se chora a verdade da vida.

segunda-feira, 3 de março de 2008














Mesmo que o mar lhes toque a alma
Caminham sem medos
É esta vontade sem limites
Que fazem destes homens
Luzeiros da noite
Pisando esta lava
Plena de promessas
Na boca o orar
Nas mãos o rosário
No olhar este agradecimento
Por terem sido abençoados
Na hora que o mundo
Mudo ficou.
São estes os homens da minha ilha
Em romarias de fé
O sol tisna-lhes a pele
Mas nao lhes verga a Alma.

Bem Hajam!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Minha Ilha

Lança-se o poente
Sobre o azul espelhado na lagoa
Onde mil lágrimas choveram
Deixando o pranto esvair-se
Entre as escarpas que abraçam este silêncio
Que teimosamente rasga as veias
Em trinados de saudade

Minha ilha
Feita de lava e lume
Hino coroado de trindades
Chão negro
Palmilhado por contas
De um rosário
Pleno de Esperança

Minha Ilha
Feita de proas
Largadas no manto de águas
Nas mãos a promessa
Na alma a certeza de um naco de pão
Que cale o tremor do amanhã

Minha ilha minha ilha
Adormecida em verdes silêncios
Onde o rumorejar da folhagem
É desejo ardente
De uma nova caminhada

Minha ilha de lava e lume
Alma rendilhada
Nas veias de um poeta.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Espaço Vazio



São palavras que nascem entre a saudade
Que abraça a alma
E o grito que aperta o peito
Deixando deslizar a pena
Qual voo suave
Sobre o azul
Que nos toca o espírito
São palavras de poetas
Artesãos da palavra
Trazem nas mãos migalhas de alma
No olhar um desejo quase divino
Na boca uma tocha acesa
No pensamento memórias
De quem largou o cais
No veleiro da esperança
São palavras no vazio do espaço
Madrugadas cheias de orvalho
Almas desnudadas
Num fado de lamentos
Lágrimas de contas dedilhadas
A cada suspiro

E tudo isto renasce
Entre um olhar grávido de esperança
E o espaço vazio
Que rodopia no tempo.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

ESTILHAÇOS DE VIDA

Do cinza do dia
Vestiste o teu olhar
Deixaste tombar lentamente
As lágrimas de um Outono
Na pedra fria
Onde a nudez das tuas passadas
Se afogam nesse charco
Plantado no meio da rua
E o vento
Essa eterna dança
Num voo liberto
Varre-te o pensamento
Enquanto a alma
Arde na fogueira do lamento

Porque choram teus olhosEstilhaços de vida?
Talvez porque o tempo
Não é face mas sim disfarce
De um mistério plasmado
No arrepio de um choro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Este é o Primeiro


Este é o primeiro
De outros que se soltarão da pena
Sem medos ou anseios
Leves como o vento
Que beija o estremecer da folhagem
Livres como o pássaro
Que abraça este céu aberto
Intensos como o estremecer
Deste gigante de água que nos faz acreditar
Que é preciso remar aqém de nós

Este é o primeiro
Que o silêncio não aprisionou
Que a lágrima nao sufocou
Que a voz nao quedou
Que a dor não maculou
Nos compassos da vida

Este é o primeiro
De um tempo
Gerado no azul incerto
Rodeado de firmes sílabas
Espalhadas pelas mãos
De uma Alma em viagem.